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Vacina contra Covid: as medidas do governo Bolsonaro e o que poderia ter sido feito diferente

G1 conversou com três especialistas que apontaram estratégias necessárias em um plano nacional de imunização

Por G1

Em junho, o Ministério da Saúde firmou uma parceria com a AstraZeneca para obter uma tecnologia de vacina contra Covid-19. Um plano para imunização foi anunciado para os grupos prioritários. Jair Bolsonaro chegou a dizer que não tomará vacina e chamou de "idiota" quem o vê como mau exemplo. O G1 ouviu especialistas para avaliar as medidas do governo federal em relação à vacina e apontar o que teriam feito diferente.

Vacina de Oxford (AstraZeneca) - Foto mostra voluntário recebendo a vacina em um hospital — Foto: Siphiwe Sibeko/Pool via AP

O que dizem os especialistas?
  • O governo havia firmado acordo com apenas um laboratório até esta quinta-feira (7), quando deveria ter feito mais parcerias por se tratar de uma vacina em desenvolvimento
A principal aposta do governo federal foi firmada em junho, cerca de 4 meses depois de a pandemia estourar no Brasil. A vacina em desenvolvimento é a da AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, atualmente em uso no Reino Unido, na Argentina, entre outros países.

Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, avalia que em uma situação como a que vivemos, a aposta em uma única vacina foi muito risco:

"Ninguém sabia se a vacina da AstraZeneca iria funcionar. Então, o que fizeram os outros países? Eles assinaram com 3, 4 empresas, fecharam vários contratos. O Brasil só assinou com a AstraZeneca. É arriscado. Geralmente, a cada 100 produtos que você consegue desenvolver, só 10 chegam no final".
  • O presidente disse que não tomaria a vacina, quando deveria ter incentivado as pesquisas em desenvolvimento e a confiança da população na ciência
Com um único acordo oficial fechado em todo o ano de 2020, o governo do Brasil não iniciou a vacinação até esta quinta-feira (7). Domingues questiona também a postura do governo federal com relação à vacina em desenvolvimento pela Sinovac, a CoronaVac, que deverá ser produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo. Pazuello anunciou que fechou contrato com o Butantan apenas nesta quinta.

“A gente [Brasil] investiu de verdade em só um laboratório. Mas, no Plano Nacional de Imunização, dependemos de 50% das vacinas do Butantan. Qual é a justificativa técnica, então, de o governo federal ainda não ter um acordo definitivo com eles? Me parece uma justifica política, com um presidente que desmerece a vacina e fala que a pessoa vai virar jacaré. O mundo inteiro correndo atrás e ele falando que vai fazer mal para a saúde. A comunicação é fundamental. E ela começa como? Com os líderes dando o exemplo".

O presidente chegou a declarar que não tomará vacina e chamou de "idiota" quem o vê como mau exemplo por não se imunizar.
  • O governo deveria ter divulgado um calendário mostrando quantas doses já estão em produção e quantas ainda serão produzidas
Em pronunciamento nesta quarta-feira (6), o ministro Eduardo Pazuello disse que o Brasil tem “354 milhões de doses de vacinas asseguradas, para 2021, sendo 254 milhões de doses pela Fiocruz em parceria com a AstraZeneca, além de 100 milhões de doses pelo Butantan”. Os especialistas ouvidos pelo G1 explicam que aguardam a informação, no entanto, de quantas doses já estão prontas para o início da vacinação, que este dado é apenas a capacidade de produção, sem levar em conta insumos, estrutura e quantidade de seringas.

Nesta quinta-feira (7), a pasta voltou a falar no mesmo número previsto para todo o ano de 2021 e disse que , no melhor dos cenários, a vacinação começará em 20 de janeiro. A pronta-entrega seria uma quantidade menor: 2 milhões da AstraZeneca e mais 6 milhões da SinoVac.
  • O governo deveria ter comprado seringas, agulhas e outros insumos descartáveis no começo da pandemia, quando só lançou um edital para adquirir esses produtos após firmar acordo de compra de doses
Domingues explica que, "muito tempo atrás", as seringas eram todas compradas pelo Ministério da Saúde. Como as campanhas de vacinação são muito ramificadas, com cidades muito distantes, a logística passou a ser feita também por estados e municípios.

“Ficava mais caro por causa dessa compra centralizada, então demos autorização para estados e municípios para que comprem seringas”, disse. Em casos mais importantes, no entanto, quando é uma campanha muito grande ou muito importante, o pedido pode ser feito pelo governo federal. De toda maneira, ele deve ser feito sempre com muita antecedência, ainda mais quando o país não passa por uma pandemia como a da Covid-19.

"A verdade é que lá em julho, quando fechamos acordo com a AstraZeneca, a compra já deveria ter sido efetuada", avaliou.

Outro ponto levantado por Domingues é que, provavelmente, mesmo sem o planejamento necessário, o Brasil deve ter seringas para iniciar sua campanha a curto prazo junto a estados e municípios. Segundo ela, há uma reserva, mas ela pode estar predestinada a campanhas de outras doenças, como as obrigatórias do calendário nacional.

“A curto prazo, os municípios devem ter as seringas, mas a médio prazo pode acabar”, disse.

No pronunciamento desta quarta-feira, Pazuello também informou que já tem “disponíveis cerca de 60 milhões de seringas e agulhas nos estados e municípios”. O G1 questionou o Ministério da Saúde se parte dessa reserva seria destinada à vacinação de outras doenças, mas ainda não obteve resposta.
  • Governo deveria ter definido quem são os grupos prioritários e quantos brasileiros estão dentro deles e, levando em conta a situação de cada estado, determinar a quantidade total de doses a ser comprada; o caminho feito foi inverso
"Surreal", disse Ethel Maciel, doutora em epidemiologia, uma das especialistas indicadas para consultoria do plano nacional de imunizações da Covid-19 que acabou saindo do projeto.

"São muitas pessoas que não sabem o que estão fazendo. São pessoas que não são da área e que não compreendem o que precisa ser feito", disse.

Maciel conta que o plano inicial era traçar uma estratégia para vacinar toda a população necessária e, assim, proteger o máximo de pessoas possível de acordo com os grupos de risco.

“Aquele plano inicial, eles fizeram dentro do acordo que eles tinham com a AstraZeneca, mas não levava em conta o plano necessário para o Brasil. Eles queriam uma adaptação para caber nas 100 milhões de doses da AstraZeneca”, afirma.

“Nós, pesquisadores, estávamos brigando pelo melhor plano possível. E a gente queria incluir toda a população vulnerável. E aí o governo precisa ir atrás das doses. Nós, cientistas, temos que dizer o que precisa ser feito. Não é o contrário. Não temos que pensar em um plano pra caber no número de doses que o governo tem”, completou.
  • Fazer um plano integrado e transparente coordenado com parceria com os governadores
A versão final do plano de vacinação, publicada em 16 de dezembro, na avaliação de Domingos Alves, epidemiologista da Universidade de São Paulo, não inclui informações estratégicas simples. Por exemplo: alguns estados, inclusive com recordes na média móvel, começam a anunciar retorno às aulas. O pesquisador pergunta: por que o governo não lidera um processo que integre a vacinação dos professores ao retorno às aulas? Por que não se junta aos governadores para alinhar todos os processos?

A mesma dúvida acompanha Maciel, que diz que seria possível pensar desta forma, mas que o plano não detalha coisas importantes para uma campanha como a do Brasil.

“Do jeito que está agora, o plano é um protocolo de intenções do que o governo pretende fazer, mas ele não especifica coisas importantes. Não diz quanto tempo vamos demorar em cada fase da campanha. Menciona a negociação com a Pfizer, mas não tem mais informações se realmente deve distribuir a vacina e em quais locais ela seria armazenada”.

“Falam do acordo com a CoronaVac, não especificam a quantidade de doses, onde elas entram, em quais estados, se vamos ter fabricantes diferentes, quais são os planos de regionalização. São coisas lógicas. Se é nossa prioridade [a vacinação], qual é o planejamento?”, questiona.
  • O governo não divulgou seu plano de vigilância para eventos adversos
Provavelmente, de acordo com Carla Domingues, algumas pessoas vacinadas irão apresentar efeitos adversos após a vacina. Eles serão raríssimos, mas podem acontecer.

A ex-coordenador do PNI diz que é preciso uma estratégia de acompanhamento muito sólida dos casos para evitar interpretações erradas e desmotivar a campanha.

"Quem vai investigar esses casos? A gente viu a loucura que foi do caso do voluntário da vacina de Oxford que se suicidou. Imagina se não tem uma investigação adequada agora em outros casos, como isso pode comprometer a vacinação. Imagina se eu pego dengue, sou um dos vacinados e morro depois. Se ninguém investigar, todos vão dizer que é a vacina", aponta.

Relembre as medidas do governo relacionadas à vacina:
  • 27 de junho: Ministério da Saúde firma acordo para uso da tecnologia em desenvolvimento de vacina da AstraZeneca pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz);
  • 17 de setembro: Ministério da Economia decide zerar tarifa de importação para insumos e vacinas contra Covid-19
  • 18 de setembro: Governo confirma intenção de aderir à Covax Facility, programa mundial para impulsionar o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, mas não firma acordo oficial e pede extensão do formalizar adesão
  • 20 de outubro: Ministério anuncia compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac;
  • 7 de dezembro: Ministério passa a negociar 70 milhões de doses da Pfizer, mas não firma contrato
  • 16 de dezembro: Governo lança Plano Nacional de Vacinação
  • 30 de dezembro: Em pregão eletrônico, Ministério consegue menos de 3% das seringas e agulhas necessárias
  • 3 de janeiro: Exportação de seringas e agulhas é suspensa

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